terça-feira, 1 de abril de 2014

Sobre os 50 anos do Golpe

A semana passada foi muito marcante na minha vida como acadêmica, como futura educadora, e, sobretudo como brasileira. A maioria sabe que eu estava em meio à resistência contra a ação da polícia na UFSC, e ali eu presenciei coisas que, pra mim, eram parte dos livros de história, ou das “coisas que só vemos na TV”. Os policiais federais sussurrando em meu ouvido desafios pra me tirar do sério, os cães rosnando pra nós com ira nos olhos, a agressividade da tropa de choque chegando e causando o tumulto com fumaça, bomba, cassetete e gente chorando. Mas uma das memórias que quero evocar aqui, e talvez mais alguém se lembre, é a de um sujeito, policial federal, rindo de nós quando gritávamos alguma palavra de ordem contra o retorno da ditatura. Nesse momento ele disse, veementemente, que a Ditadura Militar nunca aconteceu... Encontrei isso em minha memória quando alguém me lembrou de que hoje é aniversário de 50 anos do golpe, e pensei comigo mesma que neste meio século muita gente provavelmente desejou com todas as forças que aquele 1º de abril fosse só uma piada. Mas infelizmente não foi pegadinha do dia da mentira.
Nesta semana, ainda, aconteceu uma grande efervescência de alguns universitários contra a resistência que organizamos. Uma necessidade gigante de idolatrar a bandeira do Brasil, com um discurso totalmente reacionário. Sim, prezo pela democracia, mesmo que dela duvide às vezes. Mas sinceramente, quem se dá ao trabalho de olhar pra trás há de reconhecer que foram os movimentos de luta, os “vândalos” de ontem, que brigaram e conquistaram este direito de se manifestar e pensar livremente. Essa amnésia da parte de alguns me preocupa, especialmente nesta data.
Hoje não é dia de comemorar. É um dia de luto. Porque não restaram só feridas, ficaram também os ecos. E com tantas cláudias e amarildos morrendo todos os dias nas mãos de sociopatas fardados, muitas marias e clarices continuam chorando. Enquanto a banda continua a tocar, o velho cálice se enche de novo daquela velha bebida amarga que nossos pais experimentaram.
Quero dizer aqui que, às vezes, um tremendo pessimismo me assola e quase chego a ponto de desistir. Mas tenho a sorte de estar cercada de pessoas que me inspiram: os colegas do movimento estudantil, alguns professores e muitos amigos que a cada dia me mostram a importância de continuar insistindo contra a corrente dessa roda viva, pois já entendemos que só somos fortes de braços dados e que apenas flores não vencem o canhão. Aos cassianos e suas tropas, afirmo sem medo, que continuaremos sendo a mosca que sempre insistirá em pousar na sua sopa.

Laís Elena Vieira

1 de abril de 2014

Relato sobre a ação da polícia no Campus da UFSC no dia 25/03/2014

"QUE DIA! Uma das maiores aulas desde que entrei na universidade. Dentro do curso de Pedagogia, que realizou uma assembleia, finalmente com quorum e iniciou pelo menos um debate a respeito da importância de sermos políticos, sobre a greve nacional dos STAs e sobre o movimento estudantil. Mas isso era só um comecinho. Hoje foi um dia histórico e triste na UFSC. Muito triste ver de perto a falência da polícia Federal e Militar. Triste ouvir esses caras imundos provocando, tentando incitar um desacato pra começar a truculência. Nunca me senti tão oprimida. Lamentável mesmo foi a invasão da Tropa de Choque, que estourou bombas e deram tiros em td mundo sem pensar duas vezes. Nem se importaram se tinham DUAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL ao lado... e as crianças foram embora com lenços nos rostos por causa do gás lacrimogênio. Vi amigos, estudantes e professores chorando, gritando, sangrando, vomitando... Tudo isso por causa de três cigarros de maconha. Mais triste ainda é ver a manipulação da informação que a mídia faz. Eu autorizei a Rede Globo usar meu vídeo.. imaginei que pelo menos mostrariam um pouco da ação da polícia.. mas os 5 segundos q usaram não foram suficientes pra se sobressair às imagens do carro que os estudantes "depredaram" no auge da revolta. Uma revolta que eu senti em tds minhas veias. Nunca tive tanta raiva e medo ao mesmo tempo.
Ainda sim, quero agradecer pela enorme lição que os professores do CFH deram hoje em seus pequenos grandes discursos em nome da democracia, da desmilitarização da polícia, pela universidade pública, e em defesa dos estudantes."