Texto escrito por mim hoje (18/12/2012) para a disciplina de Geografia, Infância e Ensino.
A Geografia Nas
Séries Iniciais
Laís Elena Vieira
Para exercer seus
plenos direitos de cidadão, bem como cumprir seus deveres, os indivíduos devem
se identificar culturalmente como parte do território nacional. Neste sentido,
a disciplina de geografia se faz tão importante quanto à alfabetização ou à
Matemática, pois nela as crianças deverão construir e aperfeiçoar noções e
conceitos fundamentais para compreender e se enxergar no espaço em que estão
inseridas.
Para tanto, como
coloca Helena Copetti Callai, é necessário que existam condições para que as
crianças aprendam a ler o mundo. E isso vai além de observar: é apreender,
compreender e criticar. Callai indica em seu trabalho que a alfabetização
cartográfica é o caminho para que os alunos comecem a olhar criticamente os
espaços.
Alfabetização
Cartográfica
Utilizando um pouco da
teoria sócio interacionista de Vygotsky, onde ele explica que o ser humano cria
sistemas de signos que fazem a mediação entre os sujeitos e o mundo, podemos
categorizar os vários tipos de mapas geográficos como ferramentas mediadoras
entre os sujeitos e os espaços.
Os mapas nos ajudam na
locomoção em espaços desconhecidos e, além disso, nos fornecem informações
específicas do lugar, como vegetação, hidrografia, distribuição populacional,
política, e etc. Portanto, os mapas são “de suma importância para que todos que
se interessem por deslocamentos mais racionais, pela compreensão da
distribuição e organização dos espaços, possam se informar e se utilizar deste
modelo e tenham uma visão de conjunto” (ALMEIDA e PASSINI, 1994, p.16).
Compete ao professor
das séries iniciais ensinarem as crianças a ler mapas e, consequentemente, os
espaços. Para isso ocorrer, terá de trabalhar com seus alunos noções
elementares como direção, distâncias, referenciais, proporção e escalas. É
preciso ainda, permitir que seja compreendida a relação entre os mapas e a
realidade. Que este é apenas uma representação, e que quanto menor a escala,
mais distante do real.
No livro “O Espaço
Geográfico: ensino e representação” Rosângela Almeida e Elza Passini unem
considerações de Tomoko Paganelli e Jean Piaget para sugerir que a melhor forma
de aprender a ler um mapa, é fazendo um mapa. Na perspectiva construtivista de
educação, o aprendizado se torna mais significativo pra o aluno quando ele
participa ativamente do processo de ensino-aprendizagem. O ato de confeccionar
um mapa, por exemplo, faria o estudante passar por todas as etapas
metodológicas, fazendo-o compreender como funcionam os sistemas simbólicos
próprios desta linguagem. Uma vez que o aluno domina este processo, será capaz
de ler qualquer mapa.
Callai (2009, p.
90-91), compartilha dessa opinião. Mas alerta para a importância de que os
exercícios de mapeamento feitos pelos alunos partam necessariamente de dados
reais. Pois dessa forma, o aluno já começará a refletir sobre a realidade vivida
e a desenvolver a cidadania.
A
criança no Espaço
A partir do momento que a criança
trabalha todos estes conceitos próprios da geografia a respeito da construção
de mapas, espera-se que ela passe a ter um olhar diferenciado sobre o espaço à
sua volta. Podemos inferir que observará elementos na paisagem que até então
lhe passavam despercebidos e, talvez, faça reflexões sobre possíveis
problemáticas locais.
Como
apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), é muito importante
considerar os conhecimentos prévios que os alunos possuem sobre os espaços
estudados. É uma grande evolução intelectual partir do senso comum para os
conceitos elaborados. Além disso, valorizar os conhecimentos que as crianças
carregam consigo incentiva a confiança e a autoestima do estudante, tornando o
trabalho muito mais significativo.
Podemos
iniciar um estudo mais crítico sobre o espaço partindo das relações que a
criança tem, por exemplo, com seu bairro, sua cidade, seu país, etc. Com cada
um desses espaços ela terá uma experiência e uma percepção diferente. O
professor deverá guiar seu olhar para outros aspectos além dos que é capaz de
perceber sozinha. É fundamental que se faça exercícios de reflexão sobre como
os espaços, os lugares e as paisagens são construídos e modificados pela
relação homem x natureza.
Mas
não devemos subestimar os estudantes das séries iniciais. As crianças têm
plenas condições de olhar o espaço como um todo. Isto é, relacionar os lugares
para além dos círculos concêntricos. Se temos por objetivo que sejam capazes de
olhar criticamente os espaços, é preciso que compreendam que tudo está
conectado, e que o que acontece em qualquer lugar do mundo pode ter a ver com o
que acontece no espaço em que ela conhece. Esta compreensão é o principal
requisito para uma interpretação da realidade.
Referências:
ALMEIDA, Rosângela Doin de; PASSINI, Elza
Yasuko. O espaço geográfico: ensino
e representação. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 1994. (Repensando o ensino).
BRASIL, Parâmetros curriculares nacionais: história e geografia. Brasília:
MEC, Secretaria de Educação Fundamental, 1998.
CACETE, Núria Hanglei; ; PAGANELLI, Tomoko
Iyda; PONTUSCHKA, Nídia Nacib. A geografia como ciência da sociedade e da
natureza. In: ______. Para ensinar e
aprender geografia. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2009, 37 a 56.
CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o
mundo: A geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66,
p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br
CALLAI, Helena
Copetti. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: Antonio Castrogiovanni
(Org.). Ensino de Geografia:
práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2009, p.
83-133.
VYGOTSKY, Lev. Construção
do Pensamento e da Linguagem.
2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
http://www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao – acesso em 16/12/2012
http://ucsnews.ucs.br/ccha/deps/cbvalent/teorias014/restrito/vygotsky3.html – acesso em 17/12/2012